Em plena crise, o pensamento inquieta-se e interroga-se; ele pesquisa as causas mais profundas do mal que atinge a nossa vida social, politica, económica e moral.
As correntes de ideias, de sentimentos e interesses chocam brutalmente, e deste choque resulta um estado de perturbação, de confusão e de desordem que paralisa toda a iniciativa e se traduz na incapacidade de encontrarmos soluções para os nossos males.
Portugal perdeu a consciência de si mesmo, da sua origem, do seu génio e do seu papel, de herói intrépido, no mundo. Chegou a hora do despertar, do renascimento, de eliminar a triste herança que os povos do velho mundo nos deixaram, as bafientas formas de opressão monárquicas e teocráticas, a centralização burocrática e administrativa latina, com as habilidades, os subterfúgios da sua politica e dos seus vícios, toda esta corrupção que nos tolda a alma e a mente.
Para reencontrar a unidade moral, a nossa própria consciência, o sentido profundo do nosso papel e do nosso destino, isto é, tudo o que torna uma nação forte, bastaria a nós portugueses eliminar as falsas teorias e os sofismas que nos obscurecem o caminho de ascensão à luz, voltando à nossa própria natureza. Às nossas origens étnicas, ao nosso génio primitivo, numa palavra, à rica e ancestral tradição lusitana e/ou celtibera, agora enriquecida pelo trabalho e o progresso dos séculos.
Um país, uma nação, um povo sem conhecimento, saliência do seu passado histórico, origem e cultura, é como uma árvore sem raízes. Estéril e incapaz de dar frutos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A MOIRA ENCANTADA NA RAIZ DA NACIONALIDADE


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«Os muçulmanos que foram chegando à Península Ibérica eram provenientes da zona da Mauritânia e designados Mauros (igual a «escuros») Segundo o investigador Francesco Benozzo, a palavras mauros é de origem grega e não é crível que tenha dado origem à palavra mouros, que só existe na Península. Isso provocou, mais tarde, a confusão com a palavra mouros, que já aqui existia. Essa confusão de termos foi acabou por servir para fomentar o ódio ao mauro, leia-se, infiel, por parte da elite religiosa. Daí que essa confusão ainda hoje se mantenha para designar duas realidades culturais completamente distintas, já que, apesar de tudo, elas têm longínquos pontos de ligação, pois alguns dos povos originais da Península vieram do Norte de África, segundo estudos alguns geneticistas.
Ora, pode bem dizer-se que este tipo de lendas de mouras encantadas possui um carácter verdadeiramente nacional, ainda que transcenda, evidentemente, o nosso território. De Norte a Sul, mesmo em zonas onde nunca os muçulmanos se instalaram, há lendas de mouras e mouros praticamente iguais. Em fontes e em rios, em pedras e em cavernas, em árvores e em arbustos. São aparições que prometem fortuna a quem mantiver o segredo que deve ser mantido até estar cumprido um qualquer acto que se requer. São construtores de megalitos. São gigantes que empilham penedos ou trabalham metais com um único instrumento que se atira para, no monte fronteiro, um outro gigante poder, por sua vez trabalhar. São escavadores de montanhas, criando labirintos subterrâneos para se escapulirem no perigo. São gente como nós, que precisa, de quando em quando, de uma parteira, que acaba bem recompensada por trazer à luz do dia mais um mourinho. Mas são também gente, que se transforma em vários animais, que põem à prova humanos suficientemente corajosos que, desencantando os tristes prisioneiros da eternidade, recebem um tesouro inimaginável. São gente do Sol e do calor, gente agradecida pela colheita farta… Vivem num mundo subterrâneo paralelo: são a moirama, são, afinal os nossos antepassados mais longínquos, a memória viva de épocas humanas concretas, os textos mais antigos da portugalidade, os antepassados das fadas e dos gnomos de outras zonas do mundo. São os mais remotos celtas. São os MRVOS, mroos, palavra celta que designa morto, ser sobrenatural.
(...)
Do ponto de vista religioso, pode afirmar-se que, em Portugal, existe uma linha ininterrupta das mesmas crenças, desde a mais remota antiguidade. Adoradores da Terra-Mãe, personificada na serpente – a Gabriela Morais e eu fizemos há anos um levantamento de umas centenas largas de insculturas/esculturas de serpentes, de várias épocas – passou-se à Grande Deusa-Mãe, a Deusa dos Olhos de Sol – como lhe chamou um arqueólogo e cujo exemplo são as alentejanas placas de xisto – a Ísis (sé de Braga), e, com o cristianismo chega-se a Nossa Senhora, essa que em Portugal nunca é a Virgem Maria, mas sim a Senhora. E a Senhora é a herdeira directa da Moura Encantada. Surge nos mesmos locais, com o mesmo resplendor, também pede, por vezes, segredo, providencia milagres que continuam a ideia da fertilidade e da abundância/riqueza. É a mãe, é a avó, é a antepassada.
Por outro lado, e remontando à história de Ardinga, a moura, e D. Tedo, o cristão, especialistas como o italiano Francesco Benozzo afirmam, ao estudar as canções de gesta e os romances medievais, que os cristãos conquistadores têm necessidade de ter amores com mouras – no sentido da dama autóctone – porque a posse da Senhora legitima a posse da terra. (...)
Ora, possuir a moura/senhora equivalia à posse da terra (quem sabe não foi essa a razão de Egas Moniz ter deixado várias viúvas). Isto constitui uma forma racionalizada de apropriação e transformação do mito da Terra-Mãe.»(…)
*

(Imagem: moderna representação de Muireatach, um dos aspectos da Deusa celta Cailleach Bheur, eventual ancestral dos Calaicos e, de certa maneira, dos Portugueses, cujo nome começa em Portus Cale, e «Cale» vem precisamente de «Callaeci», o nome latino dos Galaicos)

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